20 de junho de 2007

Ainda se lembra?, ou a Europa em stand-by


Ainda se lembra do dia 1 de Maio de 2004? A Europa vivia um momento histórico. Países como a Hungria, a Polónia ou a República Checa e a Eslováquia (numa nova independência depois do regime pró-nazi de Josef Tiso) voltavam aos espaço geopolítico onde sempre haviam pertencido, com excepção para as décadas de interregno motivadas pela inclusão no bloco comunista.
A Norte, os países bálticos consumavam (e ainda consumam, como comprovado pelos recentes acontecimentos verificados na Estónia) a separação da esfera de influência da Rússia. A Guerra Fria não passava de uma (má) memória e a verdade histórica estava reposta.
Uma onda de entusiasmo e optimismo varria o continente, com os Estados e as opiniões públicas a acreditarem que a Europa unida – sonhada há séculos por figuras que vão de Victor Hugo a Robert Schuman – era possível.

Três anos depois, o cenário não poderia ter sido mais desencantador. O Janeiro de 2007 pautou-se por um “bem-vindos” de sorriso amarelo à Bulgária e Roménia a uma União Europeia (UE) agora a 27, até pela consciência generalizada de que ambos os países não reuniam (e ainda não reúnem na totalidade) as condições sócio-económicas dos seus antecessores, no que concerne a matérias essenciais como o combate à corrupção ou a total integração das minorias étnicas (exemplos de duas dimensões que não foram, de resto, totalmente atingidas mesmo em países fundadores da União...).

A verdade é que ninguém quis dizer “não” ou “ainda não” a estes dois países. Caso contrário, que mensagem se estaria a transmitir a candidatos como a Croácia ou a Macedónia? A Turquia e a (Grande) Sérvia, como se sabe, são casos mais complexos...

A integração artificial da Bulgária e da Roménia, assim como o congelamento dos novos processos de adesão, reflectem a preocupante situação de fragilidade estrutural de que a UE padece neste momento. E reforça a necessidade de a solidificar, com uma BOA Constituição, que modere os actuais ímpetos neoliberais (a globalização não pode legitimar tudo) e saiba preservar o que de melhor a Europa tem: os seus modelos social e cultural. Os ”nãos” holandês e (principalmente) francês têm muito que ver com esta matéria.

O intitulado “tratado simplificado”, como é reconhecido por quem de direito, é um “remendo” para a ferida da não consensualidade que ainda não sarou e, muito provavelmente, não irá sarar tão cedo, até pelas posições de protagonistas como os senhores Sarkozy e Kaczynski.

Mais um exemplo: na semana que antecedeu as comemorações dos 50 anos do projecto europeu, e segundo uma sondagem publicada pelo “Financial Times”, 44% dos cidadãos inquiridos consideravam que a sua vida havia piorado desde que o seu país entrou para a UE.
Independentemente da sondagem ter origem no Reino Unido, com tudo o que isso implica, que ilações podem ser retiradas destes resultados? Bem, que os cidadãos querem sentir-se seguros, na medida do possível. Querem, no fundo, um futuro, e a Comissão Europeia deve entender isso, de vez.
Como já entendeu que, até que a União consiga atingir esse patamar, será um perfeito disparate avançar com novas adesões.

Bem-vindos à Europa em stand-by.

Nuno Loureiro
Imagem: D.R.