27 de fevereiro de 2007

Oportunidades perdidas à beira mar plantadas

Ficou-se recentemente a saber que Portugal não soube aproveitar uma verba de 600 milhões de euros enviados pela União Europeia para modernizar o sector das pescas nacional, ao abrigo dos dois primeiros Quadros Comunitários de Apoio. Em entrevista ao “Expresso”, o ministro da Agricultura e Pescas, Jaime Silva, afirmou que «houve um desperdício de oportunidades e falta de perspicácia na gestão dos subsídios».

A notícia, infelizmente, não surpreende. O que se verifica no sector das pescas não difere muito do que – especificidades à parte – se tem verificado na agricultura (e mesmo noutros sectores da economia). Uma cultura produtiva assente num arcaísmo desregulamentado e individualista que teima em permanecer no seio da sociedade portuguesa, e que nenhum governo – responsável pelas oportunidades que os fundos que os fundos comunitários representavam – soube ou quis verdadeiramente mudar. A verdade é que, nesta triste história, não há inocentes.

Passados 20 anos sobre a nossa adesão a um projecto europeu que encarámos como pouco mais do que um providencial “euromilhões”, a mais importante de todas as mudanças – a das mentalidades – ficou em grande parte por fazer. É que não basta ter o dinheiro, é preciso ter cabeça para saber aplicá-lo. A tal «perspicácia» de que falava Jaime Silva.
Claro que se podem deitar as culpas para cima de políticas agrícolas e de pescas que, por vezes, tiveram efectivamente contornos pouco claros – a existência de lobbies é conhecida. Mas se levarmos em conta que a falta de empreendedorismo e mesmo de visão é um mal de que grande parte do tecido produtivo português ainda padece (não foi só na agricultura e pescas que fundos europeus foram desperdiçados), talvez devamos assumir de vez as nossas responsabilidades e encontrar as melhores soluções, enquanto é tempo.

Caso contrário, continuaremos a ver os novos parceiros europeus a passar por nós, rumo à plena integração sócio-económica no espaço da União. Caso contrário, continuaremos com o nosso fado de ser um conjunto de oportunidades perdidas à beira mar plantadas.

Nuno Loureiro

(artigo originalmente publicado no jornal “O Poiarense”, edição n.º 230, Setembro de 2006)

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